O poder transformador da limpeza interior

O poder transformador da limpeza interior

Primeiras semanas de dezembro. O calendário mal vira a página e, de repente, o espírito natalino começa a florescer com mais intensidade, como se o ar carregasse um perfume nostálgico, despertando memórias adormecidas. E o que é o Natal, afinal, senão esse território em que a nostalgia se encontra com as vivências acumuladas ao longo do ano?

Quando eu era criança, dezembro começava com cheiro de água sanitária e esperança. Era o tempo da grande faxina: lavar paredes, arejar tapetes, colocar cortinas limpas, organizar armários, tudo precisava ficar impecável para receber o “bom velhinho”. Havia algo quase ritualístico naquele movimento de arrumar a casa, como se, entre baldes e vassouras, a gente também passasse a vida a limpo.

E hoje? Como trazer esse costume para a nossa vida cotidiana, para a correria que nos engole, para o cansaço que insistimos em empurrar para debaixo do tapete? Será que ainda lembramos de realizar a faxina em nossa verdadeira morada - aquela que carregamos por dentro? Quantas vezes deixamos acumular, na mente, as teias da preocupação, os objetos quebrados das decepções, os cantos empoeirados da angústia? Quantas vezes esquecemos que nosso corpo também pede organização, descanso e cuidado? E, sobretudo, quantas vezes ignoramos a necessidade urgente de retirar de dentro de nós os sentimentos que já não nos servem, a dor que pesa, o medo que paralisa, a tristeza que escurece?

Que este mês nos traga esse olhar de cuidado, para limparmos nosso interior com delicadeza, abrindo janelas para que a luz volte a entrar. Que possamos cultivar bons sentimentos como quem cuida de um jardim, regando respeito, gentileza e amor — primeiro por nós, depois pelo mundo.

Porque o Natal não acontece apenas do lado de fora, entre luzes e enfeites. Ele floresce, principalmente, dentro de nós.

E talvez a faxina mais importante seja justamente essa: preparar o coração para acolher o que há de mais luminoso em nós mesmos.

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